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'Redpillado': como 'Matrix' inspira grupos machistas e a extrema-direita

Reprodução / Internet
Imagem: Reprodução / Internet

Ana Sarmento

Colaboração para o TAB, em São Paulo

23/11/2021 04h01

Na terça-feira (16), Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores, definiu-se como "redpillado" num evento conservador em Santa Catarina.

A fala em que critica o governo de que fez parte — "colocaram uma pílula azul no café do presidente", "azularam completamente" — refere-se à franquia de filmes "Matrix" e incorpora a leitura de mundo de certos grupos misóginos surgidos na internet nos últimos anos. Hoje, pílulas vermelhas e azuis fazem parte do vocabulário da direita e da extrema-direita em todo o mundo.

Em seu ambiente virtual de origem, as "pílulas vermelhas" vêm empacotadas com improváveis piadas de tiozão do pavê e dicas de meditação. Isso acontece diariamente em grupos exclusivos para homens, em aplicativos como WhatsApp e Telegram. Ninguém me contou, eu vi.

ei dez dias lendo mensagens, ouvindo áudios, vendo vídeos e recebendo memes em dois grupos de WhatsApp e dois de Telegram — um deles com mais de 1.700 participantes.

Minha entrada se deu por meio de um link de convite encontrado numa busca simples do Google por termos como "MGTOW" e "red pill", que identificam grupos masculinistas. As confrarias em que me infiltrei foram as que se mantêm em atividade, com mensagens em português. Em outras até consegui entrar, mas não havia usuários ou ninguém se manifestava.

TAB - comunidades misóginas em app de mensagens e na internet -  -

Matrix como inspiração machista

"Red pill" é termo onipresente em grupos masculinistas. No filme, o protagonista Neo (vivido por Keanu Reeves) ganha duas pílulas e tem de escolher qual tomar: a azul, que lhe permite seguir vivendo em um mundo de ilusões; ou a vermelha, para adquirir consciência sobre a realidade que o cerca.

No vocabulário masculinista, os "red pills" seriam homens que se opõem ao "sistema que favorece as mulheres", por terem alcançado um conhecimento privilegiado sobre isso. Já os "blue pills" continuariam vivendo em ilusão e, portanto, seriam usados pelas mulheres.

Há ainda uma categoria que não existe no filme: os "black pills", homens que concordam com red pills e acham que já não podem mudar nada no "sistema", assumindo uma postura mais niilista. Entre pílulas de várias cores, um detalhe irônico: as duas diretoras de "Matrix", as irmãs Wachowski, são mulheres trans. Uma delas, Lilly, chegou a confrontar figuras públicas como Ivanka Trump, Elon Musk e até Abraham Weintraub pelo uso do termo "red pill" em apologia à extrema-direita.

Cabeça de red pill

Reunindo "redpillados" autoproclamados, o MGTOW ("Men Going Their Own Way", homens seguindo o próprio caminho) é considerado um movimento separatista em que os homens se opõem não só à "opressão feminina", mas às próprias "mulheres nocivas", evitando o casamento, filhos e, em versões mais radicais, qualquer relacionamento com elas.

Como sugere a sigla, seus adeptos devem seguir sozinhos o próprio caminho — em alguns casos, abrindo mão de qualquer prazer sexual em nome da causa. É o que ocorre nos grupos que pregam "no fap" (sem masturbação).

As conversas nos grupos oscilam entre extremos: vão de mensagens de ódio contra mulheres, gays e travestis a papos sobre saúde e bem-estar — ando por memes zombando de violência doméstica, sem falar nos gordofóbicos e transfóbicos.

No primeiro grupo em que me infiltrei, aram-se alguns dias até que pudesse observar sinais de discursos tóxicos, violentos ou odiosos. Dicas de alimentação saudável, leitura e meditação entraram em pauta em muitas trocas de mensagens.

As piadas no melhor estilo "pavê ou pacumê" também reinam. A resposta costuma vir em figurinhas ou em coro, num uníssono "kkkkk".

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Na 'machosfera' com Zuckerberg

No livro "Not all dead white men: Classics and Misogyny in the Digital Age" ("Nem todo homem branco morto: Clássicos e Misoginia na era Digital), a pesquisadora Donna Zuckerberg analisa ambientes virtuais exclusivamente masculinos conhecidos como "manosphere" (a "machosfera"). São sites, canais, comunidades e espaços de compartilhamento de ódio e frustração contra as mulheres. Donna é a irmã mais nova de Mark Zuckerberg, idealizador do Facebook.

A machosfera inclui várias facções, como ativistas dos direitos masculinos, PUAS (sigla de "Pick up artists", artistas da pegação), incels (celibatários involuntários) MGTOWs (pronuncia-se "migtal" pela internet afora). A autora relaciona esses grupos a movimentos supremacistas brancos e a "alt-right"— grupos de extrema-direita dos Estados Unidos.

Com mais ou menos radicalismo, todos esses grupos se unem pela crença de que os homens estariam em desvantagem na sociedade contemporânea — que operaria sempre em favor das mulheres. Assim, há argumentos recorrentes sobre o que chamam de "caráter predatório" das leis que norteiam divórcios, pensões e tutela de filhos; bem como sobre a "natureza essencialmente interesseira e tóxica das mulheres". Aberta a porta da misoginia, a LGBTQIA+fobia e o racismo também são frequentes em discussões e "piadas".

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Foto para evitar 'feminazi'

Encontrar grupos exclusivos para homens em apps de mensagem não é difícil. Usando um chip pré-pago, cadastrei o novo telefone e usei um brasão de time de futebol como avatar. Achei que estava pronta para me infiltrar na machosfera — foi quando vi, na descrição dos grupos, que é comum haver um processo seletivo para que as regras sejam mantidas.

Nos dois grupos acima, é preciso ter uma foto real de perfil e enviar um áudio se apresentando, para evitar que perfis falsos e "feminazes" (sic) invadam o espaço. Em um deles, é preciso ar por um grupo de triagem com os es.

Para evitar usar fotos de outras pessoas, usei um filtro do Instagram que pôs uma barbicha no meu rosto e fez pequenas alterações. Para gravar o áudio, também usei um filtro do próprio Instagram que altera a voz. Não tinha certeza se seria suficiente, mas fui aceita nos dois grupos de WhatsApp: abilidade MGTOW garantida. O canal do Telegram não pede prova de identidade.

Validação coletiva

Em uma mensagem de um dos canais MGTOW, o se refere a uma mulher trans como "Frankenstein social gay e negra", e diz que homens brancos e héteros estariam em desvantagem no mercado de trabalho, mesmo que tenham mais qualificações.

Em grupos de Telegram, há textos explicitamente violentos, com deboche e apologia franca à violência doméstica.
Nos grupos do WhatsApp, em que é possível trocar mensagens, parece haver uma busca por validação de masculinidades específicas junto aos pares -- seja com a manifestação de misoginia, preconceitos diversos e violência ou pela discussão sobre formas de evoluir como homem.

No segundo caso, isso se dá tanto em inofensivas dicas de espiritualidade, cultura e autocuidado como no desenvolvimento pessoal de blue ou black para red pill. Também pode acontecer com o "livramento" da condição de "corno", "gado", "mangina" ou "escravoceta".

Ainda no WhatsApp, circulam questionamentos sobre a validade e a obrigatoriedade das vacinas contra a covid-19. A gordofobia e o capacitismo também são recorrentes.

Em termos de política, há defensores do presidente Jair Bolsonaro e o time do "nenhum político presta".

Chifre ou agressão

Além da agressividade ou preconceito em torno de algum tema, há relatos sobre insegurança com a aparência, desempenho sexual ou em relação a desilusões amorosas do ado.

Fake news sem embasamento científico também circulam nos grupos, como a afirmação de que beber água com alho aumentaria os índices de testosterona. Há também falas tétricas, como a do rapaz que se queixava sobre a dificuldade de manter um relacionamento sério na atualidade. "Pra mulher é mais fácil (...) O homem tem mais medo de ser corno, enquanto o medo das mulheres é agressão física. O medo dos homens é a humilhação em público."

Segundo o Fórum da Segurança Pública, o Brasil registra um caso de feminicídio a cada seis horas e meia. Não há chifre — ou qualquer argumento — que justifique.