Todo domingo, por volta das 9h, senhores grisalhos se enfileiram diante de uma construção marfim de pé-direito alto em uma esquina nos arredores do porto de Toyohashi, na província japonesa de Aichi. Não fossem as bandeirinhas coloridas e o letreiro luminoso com a palavra "pachinko", o endereço aria por um majestoso templo com fiéis à espera da missa dominical no Brasil.
"Pachinko" é um jogo presente em todo o território japonês — é o equivalente aos cassinos em outros países, mas com dois modelos de máquinas: o próprio pachinko, um tipo de fliperama vertical, e o "pachislot", uma máquina caça-níqueis.
A casa Ohta, no porto, abriu às 9h. Às 11h15 do sábado de Halloween, no fim de outubro, cerca de 150 das 293 máquinas já estavam ocupadas por apostadores, entre engravatados, operários e idosos que piscaram por um instante e viraram os olhos para a porta, ressabiados ao notar a presença da reportagem.
Apostar é ilegal no Japão, mas o "pachinko" se espreme em uma brecha legal, um jeitinho japonês para as cerca de 9 mil casas de jogos ativas no país até dezembro de 2020.
Nas próprias máquinas se insere dinheiro para comprar bolinhas ou medalhas de metal para jogar. Quem vencer pode trocar os totens por brindes triviais, como miojo e produtos de limpeza, ou prêmios mais interessantes (de airfryer e aspirador de pó a bijuterias, brinquedos, clássicos relógios G-Shock e isqueiros Zippo com a etiqueta "made in USA", personalizados com animes). O pulo do gato é a troca por dinheiro: como ela é feita em uma casinha fora dos salões, um puxadinho que às vezes fica no próprio estacionamento do endereço, não conta como aposta de jogo de azar e, assim, fica dentro da lei.